segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Homenagem ao Doutor Antônio Lantyer Nonato Marques

(A pedido de sua filha, Cácia)

Luís Campos (Blind Joker)


Na cidade de Queimadas
no dia treze de junho
conforme li num rascunho
no meio da madrugada
acordando a bicharada
que dormia no terreiro
com alarde e berreiro
nasceu aquele menino
que forjou o seu destino
se fez grande brasileiro.

O ano foi vinte e nove
desse século passado
foi Antônio batizado
em festa que se promove
nesse dia ali não chove
Midu batiza o menino
na igreja toca o sino
em sinal de alegria
com muita fé e harmonia
se ora e canta hino.

Deste homem probo e honrado
aqui traço a trajetória
um pouco da sua história
como se fez respeitado
ético e recatado
de vida simples, exemplar
que seu nome sabe honrar
em tudo que faz na vida
sendo pessoa querida
no trabalho e em seu lar.

Dona Lourdes, generosa
sempre amável, dedicada
com seu jeitinho de fada
sei que foi mãe extremosa
de alma pura, bondosa
orientando os filhos
a caminharem nos trilhos
ensinando boas maneiras
incentivando carreiras
para viverem seu brilho.

Pouco antes de falecer
Lourdes pediu à cunhada
Nirinha, tia amada
pra seus filhos proteger
criá-los, velar, defender
de todos males da vida
e esta tia querida
cumpriu bem sua missão
e ajudando ao irmão
aos sobrinhos deu guarida.

E Antônio foi crescendo
com muito mimo e carinho
pais, irmãos e vizinhos
suas vontades fazendo
mas ele cresceu aprendendo
o respeito e a bondade
praticar a caridade
como dever de cidadão
tratar todos como irmãos
com lisura e honestidade.

Quando criança, vivia
o filho de Dona Lourdes
esquecendo as virtudes
algumas "artes" fazia
até nas casas das Tias
o menino aprontava
se às irmãs assustava
com as primas não era menos
embora fosse pequeno
com todos ele brincava.

Certo dia o menino
queria um carro de ouro
por pouco não levou couro
por aquele desatino
puro dengo do ladino
que com esta malcriação
fez birra e deitou no chão
chorando e dando grito
mas Seu João deu-lhe um pito
chamando sua atenção.

Teve infância "sadia"
brincou e aprontou das suas
mas nunca brincou nas ruas
porque seu pai não queria
entre chistes e folias
brincava com seus irmãos
de picula e de pião
arraia, balanço e gude
cresceu com muita saúde
na área do casarão.

Nas irmãs pregava sustos
se cobrindo com um lençol
até quis jogar futebol
mesmo não sendo "robusto"
desistiu sem muito custo
já que era "perna-de-pau"
caindo assim na "real"
para o bem do "Direito"
onde teve grandes feitos
magistrado de cabedal.

Suas irmãs já sofriam
com sua forte "marcação"
e paquerar na estação
elas quase não podiam.
De vez em quando, fugiam
e pra enganar o mano
bolavam sempre um plano
pra que ele não as entregasse
e o passeio estragasse.
Foi assim durante anos.

No Monsenhor Tapiranga
fez todo o curso primário
e revendo seu "diário"
não vemos motivo pra zanga
e nem dele a turma manga
pois era aluno decente
que só queria "ser gente"
estudando com vontade
sem fazer disso alarde
Antônio seguiu em frente.

E deixando os sertões
a família se mudou
João no Tororó comprou
um daqueles casarões
tinha ele boas razões
para em Salvador morar
queria seus filhos formar
e a ambos ver "doutores"
sem querer pedir "favores"
mas pra Queimadas foi voltar.

Segundo fiquei sabendo
por motivo de doença
João dá sua sentença
logo o casarão vendendo
algum dinheiro perdendo
nesta infeliz transação
e Antônio e os irmãos
para Queimadas voltaram
um tempo por lá ficaram
depois dessa confusão.

Ele voltou de Queimadas
para encontrar o irmão
e fazer admissão
primeiro passo na estrada.
Tiveram muitas moradas
em alguns pensionatos
desses não tenho relatos
onze anos ele teria
quando voltou à "Bahia"
assim contaram os fatos.

Morou em Itapagipe
na casa de Dona Pilé
e com Edemê, no Sodré
Praticando peraltice
como fez na meninice
e com Midu morou também
com Maricota se deu bem
quando com esta morou.
Desse tempo em Salvador
boas lembranças ele tem.

No ICEIA, matriculado
antigo "Instituto Normal"
fez todo o ginasial
saiu de lá preparado
pensando em ser advogado
o "Clássico", por sua vez
foi no "Central" que ele fez
E um outro grande feito
foi ter estudado "Direito"
que concluiu com altivez.

O velho João, como quis
a seus filhos determinou
um deles seria doutor
o outro queria juiz
foi visto sorrindo feliz
no dia das formaturas
olhava-os com candura
sentindo-se realizado
por ter aos dois formado
fazendo bela figura.

Seu pai viveu em Queimadas
como coletor federal
um homem de alto astral
de maneiras educadas
reputação ilibada
muito sensato e humano
guardava com ele o plano
de ver os filhos formados
reconhecidos, notados
no meio cultural baiano.

Numa visita com o pai
à casa da Pró Beatriz
Antônio sorriu feliz
e quase da casa não sai.
Belos cachinhos o atrai
desviando sua atenção
da linda decoração.
Aqueles anjos no teto
despertaram-lhe afeto
foi "flechado" no coração.

No dia doze de maio
casou-se com Eufrosina
aquela doce menina
que ele olhou de soslaio
mas aqui não me distraio
o ano foi cinqüenta e seis
e ela pegou gravidez.
Neste mesmo ano formou
como seu pai quis, um "Doutor"
oito, o dia, dezembro, o mês.

Foi mandado a Cansanção
logo depois de formado
como Pretor convocado
para aquela jurisdição
assumindo obrigação
de pôr ordem na comarca.
Em sessenta e um, embarca
quando a política fervia
mas logo volta à "Bahia"
lá deixando sua marca.

Em concurso, aprovado
para Juiz de Direito
marca esse grande feito
e logo é empossado
ao interior é mandado
onde projeta o futuro
vai para Porto Seguro
em março de sessenta e dois
volta quatro anos depois.

Na comarca presidiu
o cartório criminal
como Juiz Eleitoral
as eleições assumiu
todo o tempo que serviu
conduziu aquele pleito
fazendo valer o Direito
ganhou o respeito do povo
embora fosse tão novo
demonstrou que tinha "peito".

Em março de sessenta e seis
passa a ser Juiz Trabalhista
outra de suas conquistas
atuando com lucidez.
Sei que em noventa e três
ele vai para o Tribunal
galgando mais um degrau
alargando as fronteiras
nesta brilhante carreira
de forma limpa e cabal.

Quando Juiz Trabalhista
da nossa Quinta Região
com trabalho e devoção
a todos ele conquista
como grande humanista
corregedor fulgente
chega a vice-presidente
mostrando sua competência
trabalhando com decência
sensato e coerente.

Acredita na intuição
e em seu conhecimento
na força do pensamento
de brilhante atuação
com clareza e precisão
as decisões redigia
suas sentenças proferia
de maneira imparcial
com dignidade e moral
seu trabalho exercia.

Pacífico e moderado
homem de poucos amigos
mas também sem inimigos
sucinto, quase calado
a muitos tem ajudado
humilde e generoso
nunca foi homem vaidoso
como eu, guarda bugigangas
gosta de sopa, caju e manga
e um cafezinho gostoso.

Não toma qualquer bebida
sendo um homem discreto
generoso e correto
pessoa muito querida
que vai levando a vida
com caráter e distinção
procurando a perfeição
nos textos que ele lavra
também de poucas palavras
e nenhuma de "palavrão".

Hoje "anda" meio parado
mas antes era ativo
sempre pensou positivo
diligente, preparado
agora aposentado
trata todos com doçura
de atitude e postura
sem egoísmo ou arrogância
com respeito e tolerância
dando a todos abertura.

Assim que ganhou dinheiro
da infância se lembrou
um fusquinha então comprou
pr'os passeios domingueiros
Sem usar "água-de-cheiro"
passeava em Salvador
com os filhos e Dona Flor
pelas ruas da cidade
da Ribeira à Piedade
da Barra ao Elevador.

Nos finais de semana
com os filhos e a mulher
ia até a Praça da Sé
pra tomar caldo-de-cana
um sorvete na Cubana
e jogar conversa fora
mas antes de ir embora
iam olhar as vitrines
na frente dos "magazines"
fechados àquela hora.

Cácia, João e Aldemir
filhos de Antônio e Flor
gerados com muito amor
e pra ver os avós sorrir
quatro netos para os divertir
o Lucass e o Joãozinho
a Vivian e o Vitinho
e duas noras legais
Delma e Ângela, são as tais
fechando meu quadradinho.

Se alguma coisa errei
de logo peço desculpas
mas assumo minha culpa
contando que tudo "pesquei"
em escritos que encontrei
na casa da sua filha
então seguindo a trilha
do que ali vi escrito
fiz as décimas "no grito"
sem trocar uma cedilha.

FIM

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