quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Fuzarca da Bicharada

Luís Campos (Blind Joker)


Quando os bichos falavam
fizeram grande pagode
convidou-se a bicharada
para um emenda-bigodes
e este baile seria
lá na fazenda do bode.

A cabra fez os manjares
bode cuidou das bebidas
as iguarias na mesa
ninguém briga por comida
Quem bebesse, poderia
tomar o porre da vida.

Falo dos comes e bebes
fico com água na boca
se tá fazendo dieta
não vá agir como louca
só apareça na festa
se tiver cabeça oca.

Arroz-doce e canjica
paçoquinha, mungunzá
amendoim, caruru
pão de queijo, vatapá
Bolo de aipim e puba
tucupi e tacacá.

Tinha churrasco gaúcho
muita moqueca nortista
tinha tutu-à-mineira
também virado paulista
feijoada carioca
torresmo, salsicha mista.

Pé-de-moleque, sequilho
brigadeiro e rosquinha
pastel, jujuba, empada
milho, quibe, queijadinha
sanduíche de presunto
olho-de-sogra, coxinha.

Batida de todo tipo
caldo de cana, aluá
Cerveja, chope, quentão
e cachaça do Pará
Suco de todas as frutas
vinho, uísque, guaraná.

Na mesa, algumas frutas
em bela disposição
abacaxi, melancia
caju, laranja, mamão
banana, manga, ameixa
maçã, figo, uva, melão.

Cartazes foram pintados
em folhas de bananeira
a fazenda enfeitada
com lanternas e bandeiras
ao centro, um grande palco
rodeado de fogueiras.

Em noite de lua cheia
sob belo céu estrelado
com linda queima de fogos
o baile foi começado
ao som dum "mela-cueca"
pelo bode contratado.

Tocando uma zabumba
o mico-leão-dourado
preguiça muito atenta
atacava no teclado
e mestre tamanduá
na sanfona deu recado.

Tartaruga, a regente
de botas, fraque e cartola
arara no clarinete
estava toda gabola
tucano tocava flauta
capivara, castanhola.

O sapo, no contrabaixo
no cavaquinho, tatu
cigarra é quem cantava
com "back" do urubu
agitando na guitarra
o roqueiro Uirapuru.

Ariranha no pandeiro
e onça no violão
A anta no cavaquinho
no violino, pulgão
guará no saxofone
já causando sensação.

Assum-preto no atabaque
jacaré no reco-reco
pernilongo no triângulo
repicava fazendo eco
porco-espinho nos pratos
e no piano, marreco.

Após apresentação
de orquestra tão garbosa
recebamos os convivas
dessa festinha charmosa
vestidos em lindos trajes
de costureiras famosas.

Borboleta e vagalume
trouxeram o periquito
o grilo vinha atrás
na orelha do cabrito
a mulher do quero-quero
chegou dando faniquito.

Também muito elegante
o amigo gavião
num legítimo Armani
um gordo camaleão
num belíssimo Dior
chegou a mulher do pavão.

Sabiá e curió
à festa não iam faltar
e o tenor, rouxinol
uma "palha" ia dar
garça e cegonha, vieram
com a égua e a preá.

Frango fazia fofoca
com perdiz e bem-te-vi
pulga e piolho vieram
no ombro do jabuti
o boi levava nas costas
a paca e o quati.

Gafanhoto, apressado
aos pulos veio entrando
o burro e o jumento
já entraram cochichando
mas cavalo não ouvia
o que estavam falando.

O jegue muito teimoso
ficou ali empacado
o seu amigo calango
com ele estava colado
logo chegou o cachorro
da gata acompanhado.

Já chegou um tanto "cheio"
o malcheiroso gambá
a centopéia chorava
por cem sapatos quebrar
aranha, em teia rendada
só pensava em dançar.

Morcego chegou dizendo
ser vampiro da novela
a perereca gritava:
- Que pintinho tagarela!
Pinto contava pra todos
as coisas que fez com ela.

Trajando belos smokings
o carneiro e o pato
de alpercatas e fraque
o caracol e o rato
com seus pelos lambidos
chegam raposa e gato.

O zebu trouxe consigo
linda vaca holandesa
a ema chegou discreta
vestindo azul turquesa
mariposa, muito linda
em seu traje de princesa.

Macaco, muito gaiato
chegou fazendo micagens
o papagaio, devasso
entrou falando bobagens
águia chegou dizendo:
- Nunca vim nessas paragens!

Formiga, num salto quinze
cuidava pra não cair
o percevejo, descalço
as botas não quis polir
barata e lagartixa
resolveram assumir.

Vestido como cowboy
veio o veado campeiro
rã, em trajes de miss
num modelito maneiro
caranguejo entrou mexendo
aquele gordo traseiro.

Coruja fala do dólar
com o amigo tritão
e a galinha dançava
um forró lá no salão
apertando o mosquito
de colete e blusão.

Também belo e grã-fino
nosso amigo peru
e com cara de galã
vem com ele o jacu
besouro e joaninha
ao lado do jaburu.

Cobra vestia um longo
teiú, paletó dourado
coelho trouxe a mosca
anum chegou apressado
ovelha trouxe a pomba
com seu vestido rendado.

O ganso e a abelha
que estavam namorando
viram quando o sariguê
sai do salão transpirando
seguido da taturana
co'um leque se abanando.

Começando a quadrilha
maribondo foi marcar
bezerro, par da esquila
só a queria beijar
lesma era par do cágado
que não acertava dançar.

Pardal e a seriema
fugiam de um canário
o burrico e a lagarta
namoravam num armário
o cupim e a iguana
completavam o cenário.

Galo chegou atrasado
quase no fim da função
mas de tanto ele dançar
calejou o esporão
foi por todos aclamado
o novo rei do baião.

Os bichos beberam "todas"
também encheram a pança
lá ninguém ficou parado
todos caíram na dança
a bicharada não vai
esquecer essa festança.

Essa fuzarca porreta
transcorreu em harmonia
a bicharada presente
dividiu a alegria
se você achar que pode
conte outra qualquer dia!

FIM

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